"Cansei-me um bocadinho desta necessidade de ser discreto", desabafa. "Que não era uma necessidade minha, o meu trabalho sempre foi o mais visível possível. É uma necessidade dos outros, deste país em que vivemos. Aceitamos mas só até determinados limites. Só dentro do politicamente correcto. O que é uma falsa tolerância. Por exemplo, estar a falar da questão gay evitando ao máximo a questões dos comportamentos sexuais concretos é uma perversão." Luís Assis imaginou esta trilogia como uma afirmação política: porque as coisas existem e é preciso falar delas; porque só falando as pessoas se habituam e deixam de achar estranho.
O primeiro espectáculo foi um solo - "para que não houvesse dúvidas". Uma espécie de manifesto de intenções, que serviu também como teste, saber "até onde se pode falar e até onde se pode mostrar". E romper com esses limites. As reacções, boas e más, permitiram-lhe avançar com mais segurança para este Beijos & Abraços, onde é novamente autor, encenador e actor, contracenando com Paulo Diegues, Maria Camões e Cláudia Andrade. Eles compõem dois casais gay e o espectáculo - com cenas de nu integral e sexualmente explícitas - "anda muito à volta das relações e dos problemas emocionais que, na maior parte dos casos, são os problemas de todas as relações".
Gay Solo era um espectáculo centrado no número um, como nos relacionamos connosco próprios; Beijos & Abraços anda à volta dos pares e das relações; o próximo espectáculo tem tudo a ver com o número três: os triângulos amorosos, o terceiro sexo, como nos relacionamos com a sociedade. "Se o primeiro era um registo irónico, de semi-comédia, e este é um drama, quero que o último seja uma festa."
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