Os patrocinadores também contribuíram para a grande afluência, com a oferta de centenas de convites que ninguém recusou. Gentes do mundo da moda, empresarial, das relações públicas e do cinema. Mário Dorminsky, o eterno director do Fantasporto, tinha visto o musical em Nova Iorque; por isso a ocasião serviu para comparações. Já a estilista Anabela Baldaque desejou - antes de ver a prestação dos actores - que a adaptação nacional de "Rent" fosse "um óptimo espectáculo, pois temos que dar valor ao que é nosso".
Nossa é também a língua usada nos diálogos entre as diferentes personagens, substituída, contudo, nas músicas que também contam a história, desafiam medos e retratam emoções. Talvez porque as letras traduzidas para o idioma de Camões, muitas vezes, se denominam pimbas ou para manter a essência do originalidade, o inglês domina a peça e revela excelentes vozes.
Entre os actores, a experiência de uns equilibrou o nervosismo dos estreantes, o que se saldou num balanço positivo, capaz de melhorar em cada exibição até 17 de Dezembro. De destacar a prestação de Maria Santos, que mais uma vez fez de lésbica, agora como Maureen, depois de ter sido Liliana em "Morangos com açúcar". Revemos ainda Sofia Barbosa, a advogada Joanne ( namorada de Maureen) que além de cantar como em "Operação Triunfo" agora também representa.
De resto, são 30 actores e seis músicos - dirigidos pelo inglês John Gardyne - a dar movimento a este musical alegre e turbulento que celebra uma comunidade de jovens que lidam com as esperanças e a dura realidade nova- -iorquina dos dias de hoje, com temas controversos como falta de casa, a sida e o consumo de drogas, sempre com compaixão.
24 de Dezembro, nove da noite... Começa um filme sem guião e a aventura em cima do velho palco do Sá da Bandeira. O cenário físico transporta a plateia até "East Village" de Nova Iorque e não é só no palco... Os corredores do teatro também vestiram a causa e, pelas mãos de alunos convidados de Belas-Artes, apresentam graffiti nas paredes, revitalizando o antigo espaço da cidade.
Entre eles, os actores fizeram o "aquecimento" durante o porto-de-honra oferecido aos espectadores. Um assaltante surge de rompante e, aflito, pede uma moeda, apanhando de surpresa os mais incautos, enquanto uma jovem de ar desconfiado e modos bruscos pede um cigarro aos presentes. Alguns familiares assistem à performance e tentam chamar a atenção dos "seus" actores, mas estes, empenhados nos respectivos papéis, não passavam cartão a quem os viu nascer para a arte. Mas a dureza da profunda América estava reservada para as cerca de duas horas de espectáculo, em que várias histórias se misturaram. Faltou apenas uma maior extroversão do público, algo passivo nas reacções a alguns momentos da acção.
"Rent" é originalmente um musical escrito por Jonathan Larson - morreu na véspera da pré- -estreia, vítima de um aneurisma cerebral -, que se baseou na ópera italiana "La Bohème", de Giacomo Puccini. Trocou-se a tuberculose pela sida e o final do século XIX pela década de 80 do século passado para compor um painel caótico e de esperanças voláteis, centrando-se em oito personagens que, quanto mais se envolvem, mais se perdem. Retrato perfeito de uma Nova Iorque pré-Giuliani e de uma faceta da geração da década perdida, que acabou por tornar-se num grande sucesso - é o oitavo espectáculo da Broadway há mais tempo em cartaz.
[Dados úteis (PortugalGay.PT):
Teatro Sá da Bandeira - R. Sá da Bandeira,108 - Porto
Até 17 de Dezembro - Terça a sábado às 21:30
Preço - 15 a 40
Site Oficial - www.rentomusical.com ]