O caso teve início há quase duas semanas, a partir de uma discussão entre uma das alunas homossexuais e uma auxiliar de educação. Mas as versões não são coincidentes os alunos contam que o problema começou com uma troca de palavras entre as duas. O presidente do Conselho Executivo, António Teixeira, acredita que as duas alunas terão sido encontradas a beijarem-se, afirmando ser política da escola, sem qualquer discriminação na orientação sexual dos alunos, não permitir manifestações de afectos, como beijos. Esta posição resulta, segundo explicou a escola em comunicado, de "uma necessidade de promover o respeito mútuo, a sã convivência entre toda a comunidade escolar".
Por isso, garante, "o relacionamento das duas alunas não tem incomodado este Conselho Executivo". E explica ainda que deu, "sem quaisquer reticências", autorização para a realização de um debate na escola sobre o tema "Homofobia". O comunicado da escola refere que os alunos "podem tomar a opção sexual que entenderem, preservando sempre os limites exigíveis a todos os utilizadores de um espaço público. E isto é válido para homo e heterossexuais".
Jorge Pereira, membro da direcção da AE, diz, contudo, que uma das jovens foi "repreendida pela falta de respeito que teve com a empregada, mas também pelos comportamentos homossexuais dentro da escola". E que, depois da conversa mantida com o presidente do Conselho Executivo, foi ter com a AE a pedir ajuda. Nessa sequência, explica Jorge Pereira, foi organizado o debate sobre homofobia [onde esteve presente o PortugalGay.PT]. Quanto à proibição de beijos no interior da escola, o membro da AE argumenta "nada haver nos estatutos" e que havia mesmo uma professora que "fazia ronda na escola para ver se não havia exageros nos afectos".
A situação está agora "calma", adianta Jorge Pereira. As duas alunas, de 17 e 19 anos, a frequentar respectivamente o 10.º e o 11.º ano, não foram identificadas. Aliás, dizem os colegas, os pais não sabem que são homossexuais e a mãe de uma delas terá sido informada do facto pelo director de turma. Quanto à restante comunidade escolar, afirma a AE, não há quaisquer problemas de rejeição relativamente às jovens. "Alguns dizem piadinhas, mas é normal", afirma Ana Marques, outro elemento da Associação de Estudantes.
Reacções
"Não quero acreditar que haja uma proibição explícita de certos actos." Embora confessando o seu desconhecimento quanto ao caso da Escola António Sérgio, o presidente da Confap (Federação Portuguesa das Associações de Pais), Albino Almeida, não tem dúvidas sobre o carácter "abstruso" de um regulamento escolar que interditasse o beijo. "A escola em causa seria desautorizada", continua Almeida, a quem parece impossível que uma norma desse tipo passasse o crivo do Conselho Pedagógico e fosse aprovada em assembleia escolar - passos necessários para ser aplicada. Já o psiquiatra Daniel Sampaio, presidente do Grupo de Educação Sexual (nomeado pelo Ministério da Educação), já visitou escolas onde os beijos são proibidos. "Não concordo com isso. Não faz sentido proibir comportamentos afectivos e quaisquer regras sobre os comportamentos dos jovens devem ser discutidas com eles". Outro membro do GES, a psicóloga Margarida Gaspar de Matos, frisa que "na adolescência a sexualidade é exploratória, e nem sempre a privacidade é preservada. Mas apontar a dedo um comportamento desses pode ser traumatizante."