Mesmo que isso implique ir contra o coração. "Às vezes ainda me perguntam porque é que a senhora se mete nessas coisas?" Leonor Beleza solta uma gargalhada fresca, de quem há muito descobriu no humor a melhor forma de enfrentar a opacidade do mundo. Mesmo quando o panorama é, diz, "do foro do escândalo". Refere-se "à ausência das mulheres nos lugares de decisão", visível tanto no Parlamento, do qual foi até há pouco vice-presidente, como nos governos, de que o socialista XVII é paradigma. Uma ausência que é um símbolo para o resto, como é símbolo a indiferença com que parece ser recebida. "Acho que já era tempo de as pessoas perceberem que não é razoável sermos representados de forma tão desproporcionada." Mas o que parece fazer as vezes de razoabilidade, admite, é a ideia de que o feminismo, entendido na sua acepção mais abrangente como a luta pela igualdade de género, contra os papéis esteriotipados atribuídos aos sexos, é "coisa do passado", algo olhado com desconfiança, perplexidade ou, nas mais das vezes, mofa. As feministas são vistas, precisamente, como mulheres "irrazoáveis", "com problemas", "frustradas", a quem falta "qualquer coisa" - "um homem", como refere, a fazer coro com o riso de Beleza, a escritora e jornalista Maria Teresa Horta, que frisa ser o ridículo a arma mais usada contra esta luta. Há até a ideia, comenta, de que "o feminismo é uma batalha contra os homens". [...]
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