Confesso que falar de Tchinda Andrade - a protagonista maior do filme - é como falar de um grito de liberdade na condição que assiste a cada um de nós: o simplesmente sermos nós.
Tchinda assume-se como pessoa trans na ilha de São Vicente, Cabo Verde, e a ilha e aquela comunidade assume com ela um protagonismo visível no documentário de Pablo Garcia Pérez de Lara e Marc Serena.
O enredo desenrola-se nos preparativos do Carnaval de São Vicente, descrito pelo realizador como um pequeno Brasil em Cabo Verde e definido pela fantástica Cesária Évora como "o melhor Carnaval de África".
Os decores da esquadra de samba, o carro ornamentado, a música e a letra que define a comunidade de Tchinda, tudo é mostrado, isso e o que em volta reside no quotidiano de uns e outros. Tchinda pode ser a protagonista, mas não é a única que invade a tela. O realizador explica, ele mesmo, Marc Serena na sala 3 do São Jorge, que Tchinda Andrade fez questão de mostrar a sua gente e muitas vezes “fugiu” da objetiva para dar espaço aqueles que lhe dão força, nome e presença.
Durante o filme muitas são as vezes que se escuta “Tchinda quem manda” porque ela é a líder, a "vendedora de coxinha" que de panela na mão corre as ruas do bairro a vender coxinha frita, é a matriarca da comunidade.
Um filme a não perder para compreender que África tem muitos rostos, muitas formas de estar, de viver e sobreviver, e São Vicente surge como um paraíso trans nesse continente tão ingrato para os queer.
João Paulo, editor PortugalGay.pt
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