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IN MEMORIAM: Isidro, um rapaz da Beira
Qua, 14 Out 2020

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IN MEMORIAM: Isidro, um rapaz da Beira
Serviços de vendas, ETT’s, contratos temporários, três operadoras: “(…) na fase pós-revista foi o primeiro trabalho que procurei. (…) Em Junho de 2005 a necessidade forçou-me a procurar um trabalho.”; “Fiquei 6 meses nesse call center.”; “(…) A minha preferência era largar o call center e ficar na editora visto que era a minha área. Mas visto que a editora entrou em dificuldades e acabou por encerrar durante algum período, e a gráfica que era do mesmo grupo, eu tive de manter-me no call center. (…) Eu detesto o call center e tu ainda não me perguntaste se gostava ou não, mas digamos que aprendi a gostar. Suporto e procuro fazer o melhor, ser bom naquilo que faço. Sou autosuficiente e cumpro objectivos.”

Lidar com gráficas, paginar. Registo e depósito legal, periodicidade trimestral, a tiragem da Korpus chegou a 5000 cópias por edição. Levava-se a sério. Fazia amizades e conhecimentos, dava-lhes páginas, convidava-as a colaborar. Criou conselhos editoriais. Encontrou colaborações frutíferas e prolongadas com José Segarra, Guilherme de Melo, Fernando Cascais, ou Tito Lívio, entre outres. Com Carlos Silva, outro cronista, visual, fotógrafo do ativismo dos anos 90-2000, em quem delegou reportagens fotográficas de marchas e arraiais.

O Isidro Sousa era vox populi e classe precária. Era solidário e seguia uma ética. Representou meticulosamente multidões, grupos e culturas, dinâmicas humanas, sociais e políticas de um período especial. Editor solitário, por vezes acompanhado. Por vezes crítico do ativismo, ou dando voz a críticas nem sempre na linha das narrativas mais ativistas que acabariam por ganhar terreno.

Declarada de início “informativa”, a Korpus era “não pornográfica ou sobre sexo, mas sobre sexualidades”. Era “gay” mas plural, L, B e T. Quem quisesse escrever na korpus, ele só agradecia. Pedia declarações. As pessoas falavam. Pedia desculpas por prazos incumpridos e impressões desfocadas. Fazia misturas improváveis. Nus de homens gay, textos “machos” e textos de ativistas lésbicas. Cis-binarismos de género e ativistas trans. O femicídio de Gisberta, que conheceu. Tudo na mesma edição, mas cada coisa em sua secção. Toda a gente.

Juntou mundos diferentes à procura de gramáticas e linguagens novas. “Ser gay não é ser feminino” (carta de leitor) ou “O meu corpo já não me faz sentir mal” (conto erótico). Aborto. Vih/sida. Amores. Conselhos e correios sentimentais. Entrevistas, artistas, clientes e proprietáries, casuais ou habituais, últimas novidades do transformismo.

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Sérgio Vitorino

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