Vinte e dois anos depois de descriminalizar gays e lésbicas a Irlanda foi ás urnas em referendo para votar o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
O país com tradições fortemente católicas tem visto costumes antiquados a serem substituídos de tal forma que quando, finalmente, os legisladores decidiram avançar com um referendo pelo Casamento, o lado do não teve uma postura quase passiva nesta campanha. A ala conservadora tinha-se movimentado no passado de forma vigorosa sobre questões como o divórcio e o aborto. Recorde-se que a Irlanda só em 2013 é que aprovou a legalização da Interrupção Voluntária da Gravidez e, mesmo assim, tem uma das leis mais restritivas a nível europeu nesta questão permitindo o aborto apenas em situações de perigo de vida da mãe. Mas a imagem pública da Igreja Católica ficou fortemente manchada por uma série de escândalos com destaque para os múltiplos casos de abuso sexual de menores. Desta forma as previsões de vitória do Sim nas sondagens não vieram com grande surpresa, mas muitos do lado do Não ainda acreditavam numa participação massiva de pessoas mais idosas e dos meios rurais o que não veio a acontecer.
Imagem das mudanças no país é o senador David Norris, hoje com 70 anos, e que teve um papel importante na vitória da despenalização da homossexualidade. Embora o senadore acredite que o povo sempre foi "tolerante e decente" mas, não deixa de achar piada que numa altura da sua vida era considerado um criminoso por amar um homem e agora até pode pensar em casar-se com quem ama.
O casamento entre pessoas do mesmo sexo na Europa são já uma realidade em mais de uma dúzia de países onde se inclui Portugal; Espanha; Holanda e Noruega como exemplo, mas também fora da Europa países como Canadá, Argentina e Uruguai, estando os EUA a atravessar uma luta intensa com o objetivo de tornar o casamento entre pessoas do mesmo sexo uma realidade nacional, sendo que já o é num grande número de estados.
Recorde-se que recentemente o parlamento da Irlanda tinha aprovado a igualdade na adopção e os casais do mesmo sexo já tinha reconhecimento legal desde 2010.
Quanto ao referendo realizado esta sexta-feira, depois de tempos recentes em que altas figuras do estado manifestaram o seu repúdio pela igualdade de gays e lésbicas, a verdade é que nesta campanha foram muitos os apoios inesperados. Um exemplo foi o padre Tim Hazelwood que em declarações ao jornal The Irish Time afirmou que o país e a igreja não tem tratado bem as pessoas homossexuais e, no final da missa do passado domingo disse que ia votar a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
A pergunta feita foi “O casamento pode ser contratado em conformidade com a lei por duas pessoas, sem distinção de sexo” e Irlandeses espalhados pelo mundo viajaram para a sua terra natal afim de votarem. Mais de 1 milhão de votos (62%) deram vitória ao SIM e uma enorme multidão reuniu-se no Castelo de Dublin para celebrar o resultado que alterava o número 34 da constituição Irlandesa e a assinalar a primeira vez que a igualdade no casamento de gays e lésbicas foi conseguida através de referendo popular no mundo.