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PORTUGAL: Entrevista com Sérgio Vitorino sobre a dádiva de sangue por homens que tem sexo com homens
Sex, 19 Fev 2021

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PORTUGAL: Entrevista com Sérgio Vitorino sobre a dádiva de sangue por homens que tem sexo com homens
Ao longo dos anos 2000, foram vários os momentos em que as Panteras Rosa voltaram a confrontar publicamente o IPS, quer através da ação direta – como em 2005 quando um grupo de Panteras manchou de tinta vermelha a entrada das instalações do IPS, ou em 2007, quando encenámos uma "doação de sangue simbólica" frente ao Ministério da Saúde, onde comparecem de "sacos de sangue" na mão. Recordo, nessa época, uma reunião entre o então presidente do IPS e uma delegação das Panteras Rosa, na qual foram desmontados um por um os supostos "argumentos médicos" para a exclusão, sem que isso resultasse numa revisão dos critérios, quer pelo Instituto, quer pela tutela.

Integraram o grupo inicial das panteras, maioritariamente feminino, pessoas como Patrícia Louro, Vanda Violante ou Ângela Fernandes, e mais tarde na mesma década o ativista trans Stefan Jacob, no Porto António Alves Vieira (já falecido), Fernando Mariano ou Bruno Maia, em Lisboa Raquel Freire, Anabela Rocha ou (antes de saírem para fundar o Grupo Transexual Portugal) as ativistas trans Eduarda Santos e Lara Crespo (que perdemos há pouco mais de um ano), para nomear apenas alguns dos nomes que assumiram momentos de representação ou presença pública.

PG - A luta valeu a pena (valerá sempre a pena?), com certeza, a lei mudou e os questionários presentes nos impressos foram alterados, mesmo tendo levado demasiado tempo. Mudou a lei, mudou os impressos questionário, mas parece haver uma resistência, ou um hábito enraizado nos elementos do sistema de recolha de sangue, que agora verbalmente mantém as questões abandonadas por lei. Como vês esta nova denúncia sobre a existência de um questionário verbal que não só discrimina, ou continua a discriminar, como tem uma postura heteronormativa?

SV - Vale sempre a pena, tanto que hoje há uma grande diferença de contexto relativamente às épocas que referi anteriormente, que é o facto de a questão ter sido objeto de decisão política e de a discriminação já não ter nem a lei, nem as normas, do seu lado. No entanto, não deixa realmente de impressionar como numa polémica já com 30 anos se continuam a verificar resistências, sejam estas de ordem institucional ou de profissionais de saúde específicos. Penso que continuam ambas presentes, fruto de uma cultura de largos anos na qual, a pretexto da proteção da qualidade do sangue se colocava em risco essa mesma segurança através de critérios que incidiam sobre a orientação sexual e não sobre os comportamentos de risco específicos que importava despistar, já para não falar da exclusão de milhares de potenciais dadores num país que não tem assim tão assegurada a estabilidade seu stock de sangue e que se encontra em plena pandemia. Nesse sentido, as denúncias foram e continuam a ser indispensáveis ao diagnóstico da situação e ao apontar das más práticas.

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